E SE PARASSE A INTERNET, TODA, MUNDIAL?
Observo uma fila dupla de crianças orientais de uns sete anos de idade voltando da escola para casa no bairro deles, a Liberdade.
Estou surpreso, afinal, aqui não é nada parecido com o Japão, ao contrário, o que reina é o risco desnecessário, a falta de planejamento, a pressa, a improvisação, a indisciplina.
Mas engraçado, esses aí estão até bem organizadinhos. Ultrapasso, curioso para ouvir o que estão tagarelando.
Os dois primeiros formam um casal, de mãos dadas, conversam. A menina fala: “Você já imaginou se parasse a internet, toda, mundial?”
Fico besta com a articulação da frase, diante do tamain da pessoa.
Isso faz pouco mais de um ano. Entendo a preocupação. Deviam estar antenados na tensão causada por todo lado pela greve dos caminhoneiros que então paralisou o transporte de tudo no país durante uma semana. Como vivem demais nesse mundo virtual, o medo maior deles era que a net também, como a vida real, pudesse entrar em pane.
A resposta do moleque à inquietação da menina foi por demais interessante. Ele disse: “eu choraria muito”.
Criança, foi espontâneo, mas é oriental, desses tipos muito cerebrais que na idade de sete anos já retiram da cultura livresca seus tempos verbais: “choraria”.
Minha curiosidade, como sempre, deu seus frutos. Segui meu caminho pensando em minhas queridas crianças sertanejas, que nunca canso de observar, brincando, conversando, interagindo, trabalhando.
Pensei o que diriam: “já imaginou se acabassem as bolas de borracha do mundo, ou os rolimãs e as bicicletas, os peões de pau, os estilingues e os cavalos de montaria...?”
Ora ora, pensei, se essa "catástrofe" de fato acontecesse, talvez não sentissem tanta falta de suas pequenas regalias, afinal, haveria ainda eles mesmos, esses moleques, seu vigor de fazer tudo de novo desde o nada, sua energia peralta, e haveria o estar entre si, apenas, e entre eles a fantasia, mãe dos seres humanos, mãe de todas as invenções.
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